Morreu hoje, aos 81 anos, o cineasta, escritor, jornalista e analista político Arnaldo Jabor. Ele estava internado no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, desde o dia 16 de dezembro, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico.
A informação foi confirmada pela família nas redes sociais. “Jabor virou estrela. Meu filho perdeu o pai. E o Brasil perdeu um grande brasileiro”, escreveu Suzana Villas Boas.
Tendo iniciado sua carreira no cinema e conquistado prêmios importantes com seus filmes entre as décadas de 1960 e 1980, Jabor também integrava o time de colunistas do jornal O Globo e também da TV Globo desde 1991.
Na telona
Nascido em 1940 no Rio de Janeiro, filho de um oficial da Aeronáutica e uma dona de casa, Arnaldo Jabor desempenhou diversas funções no mundo da sétima arte antes de passar a dirigir curtas e longas metragens: ele foi técnico de som, crítico de teatro e roteirista. Então, em 1964, se formou no curso de cinema do Itamaraty-Unesco.
Seu primeiro longa metragem foi o documentário “Opinião Pública” (1967), uma espécie de mosaico sobre como o brasileiro observava sua própria realidade.
Um dos expoentes do movimento do Cinema Novo, focado em analisar a realidade do Brasil, Jabor também foi responsável por sucessos de bilheteria como “Toda Nudez Será Castigada” (1973), premiado com o Urso de Ouro no Festival de Berlim, e “O Casamento” (1975), ambos baseados em obras de Nelson Rodrigues.
Em 1980, com “Eu Te Amo”, consagrou Paulo César Pereio e Sônia Braga no cinema, concentrando-se nas crises amorosas e existenciais de um homem e uma mulher.
Ao todo, ele dirigiu sete longas, dois curtas e dois documentários. Entre eles, também está “Eu sei que vou te amar” (1986), indicado à Palma de Ouro de melhor filme do Festival de Cannes, e com os jovens Fernanda Torres — que ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival na ocasião — e Thales Pan Chacon na pele de um casal em crise.
Depois de 24 anos longe dos cinemas, em 2010, ele voltou a filmar e assinou o roteiro e direção de “A Suprema Felicidade”.
Ironia na TV
Na década de 1990, em decorrência do sucateamento do cinema nacional durante o governo Fernando Collor de Mello, Arnaldo Jabor se voltou para a imprensa, estreando como colunista no jornal O Globo em 1995 e, mais tarde, também na TV Globo.
Seus comentários ácidos e irônicos sobre política, cinema, artes, filosofia, economia, amor e relacionamentos ganharam espaço no “Jornal Nacional”, “Jornal da Globo”, “Jornal Hoje” e “Fantástico”.
No “Jornal da Globo”, Jabor chegou a dividir os comentários com Paulo Francis e Joelmir Beting. Ele assumiu a coluna sozinho a partir dos anos 2000.
No mesmo período, também se dedicou à literatura. Ao todo, publicou oito livros de crônicas. O primeiro deles, “Os canibais estão na sala de jantar”, foi lançado em 1993.
Fama errônea
Autor dos best-sellers “Amor É Prosa, Sexo É Poesia” (2004) e “Pornopolítica” (2006), Arnaldo Jabor também ficou conhecido por textos que não eram de sua autoria, atribuídos erroneamente a ele.
Em uma coluna de 2009 no jornal “O Tempo”, Jabor ironizou os diversos elogios que recebia de anônimos na rua por textos que nunca havia escrito, assim como as críticas que recebia.
Admiram-me pelo que eu teria de pior; sou amado pelo que não escrevi. Na Internet, eu sou machista, gay, homofóbico, idiota, corno e fascista. É bonito isso?
Arnaldo Jabor
Durante a pandemia, Jabor não deixou de trabalhar. Mesmo longe da redação, ele seguiu gravando as colunas em casa. Com o avanço da vacinação contra a covid-19, ele voltou aos estúdios da TV Globo em São Paulo. A última vez que foi ao ar aconteceu em 18 de novembro.
Por Ane Cristina, Daniel Palomares e Marina Marini De Splash | UOL.COM.BR